sábado, junho 05, 2004

Faleceu ontem em Roma aos 83 anos

Adeus a Nino Manfredi


Nino Manfredi

O actor italiano Nino Manfredi faleceu ontem num hospital de Roma, onde foi internado depois de nos últimos meses ter padecido de problemas respiratórios. O protagonista de películas tão populares como "El Verdugo", "Adultério à Italiana / Adulterio all'italiana" e "Vejo Tudo Nu / Vedo nudo" contava 83 anos.
Saturnino Manfredi, seu verdadeiro nome, pertencia à grande geração de actores que sustentaram a grande comédia à italiana. Foram, entre outros, Ugo Tognazzi, Alberto Sordi e Vittorio Gassman e tornaram-se populares graças à sua capacidade de retratar, tanto no teatro como no cinema, as qualidades e os defeitos do italiano médio. Todos eles - com Marcello Mastroianni intermitentemente - reflectiram os vícios e as virtudes da pequena burguesia, surgida nos anos 50 das ruínas da Segunda Guerra Mundial, e criaram o seu cliché no mundo.
Manfredi nasceu a 22 de Março de 1921, em Castro dei Volsci, uma povoaçãozita da província de Frosinone, a 100 quilómetros de Roma. Imediatamente se sentiu atraído pelo teatro mas para contentar os seus pais viu-se obrigado a estudar Direito, carreira que jamais exerceu. Paralelamente a esses estudos matriculou-se na Accademia Nazionale d'Arte. Recrutado por Vittorio Gassman, interpretou obras de Pirandello e Shakespeare no Piccolo Teatro de Milão.
Começou a sua carreira artística na rádio e nos anos 50 era um secundário imprescindível ao lado dos mais populares Alberto Sordi ou Vittorio de Sica. Um dos realizadores que melhor o compreendeu, Nanni Loy, ofereceu-lhe o papel de ladrão patético na segunda parte de "Golpe Audacioso / Audace colpo dei soliti ignoti" (1958) e isso serviu-lhe de impulso para ascender ao protagonismo em "A cavallo della tigre" (Luigi Comencini, 1961) e o magnífica "Anni ruggenti" (Luigi Zampa, 1962).
Foi nesses anos e com a chegada da televisão que se converteu numa figura muito querida por todos os italianos através do programa de variedades Canzonissima. Manfredi multiplicou as suas actividades e estreou-se na realização nessa época dirigindo e interpretando o episódio "L'avventura di un soldato", da película "L'Amore difficile" (realizada em 1962 por Alberto Bonucci, Luciano Lucignani, Manfredi e Sergio Sollima), um dos seus melhores trabalhos atrás das câmaras juntamente com "Per grazia ricevuta" (1971).
Os italianos recordarão Manfredi como o carpinteiro Geppetto, pai de Pinóquio, no homónimo filme de Comencini (1971), ou como o desorientado anti-herói de "Pane e cioccolata" (1973), de Franco Brusati. O actor brilhou particularmente com determinados realizadores que souberam utilizar a sua inteligência como Antonio Pietrangeli em "Io la conoscevo bene" (1965); Luigi Magni, em "Em Nome do Papa Rei / In nome del papa re" (1977); Ettore Scola ("Tão Amigos Que Nós Éramos / C'eravamo tanto amati", 1974, "Feios, Porcos e Maus / Brutti sporchi e cattivi", 1976), e Nanni Loy ("O Pai de Família / Il Padre di famiglia", 1967).
Menção à parte merece o su protagonismo em "El verdugo", de Luis García Berlanga (1963), no qual compôs um pobre tipo ameaçado pelas circunstâncias políticas e sociais.
Nos últimos anos, um 'spot' televisivo duma conhecida marca de café fê-lo entrar diariamente nas casas de todos os italianos, ao ponto de se ouvir que com o que ganhou naquela publicidade poderia viver tranquilamente durante toda a sua vida. Mas isso não o afastou da interpretação que cultivou até ao fim. O seu último trabalho no cinema foi em 2003 em "La Luz prodigiosa", de Miguel Hermoso, no qual, ao lado de Alfredo Landa e Kiti Manver, encarnava um García Lorca, velho e vagabundo, a quem a ficção do filme havia salvo do pelotão de fuzilamento.
Em 1966 foi distinguido com o Prémio Nastro d'Argento para o Melhor Actor Italiano pelo seu desempenho em "Falemos de Homens / Questa volta parliamo di uomini", de Lina Wertmüller.